"Tudo vale a pena se a alma não é pequena". Esta é a contribuição do grande Fernando a este artigo. Ele entrou aqui como Pilatos no credo, ou, sendo mais atual, como Monica Lewinsky na História norte-americana (desculpem a comparação, Pilatos e Fernando).
E o que hoje me incomoda muito é a quantidade enorme de almas pequenas, tanto almas individuais, quanto almas empresariais. Vou mexer em vespeiro, agora. Espero que as conseqüências não sejam muito dolorosas, que as vespas não fiquem muito irritadas.
A questão é que todos sabemos que cultura não se sustenta em nenhum país do mundo sem os patrocínios empresariais. E todo mundo sabe também que ninguém patrocina por idealismo apenas, embora a afinidade intelectual seja muitas vezes um componente importante na decisão de apoiar um empreendimento cultural. As empresas patrocinam, inclusive além dos incentivos fiscais, porque querem ver sua marca vinculada a uma certa iniciativa cultural, a uma produção ou evento de qualidade. Isso é lógico e legítimo e é parte da estratégia empresarial das empresas modernas.
No entanto, alguns meios de comunicação, particularmente órgãos de imprensa, omitem, de forma sistemática, os patrocinadores de um evento, de uma obra, de uma companhia teatral. Isso é facilmente perceptível nos enquadramentos fotográficos de alguns eventos que não deixam o nome de patrocinadores à mostra. Uma empresa leva 100 mil pessoas ao Ibirapuera ou ao Aterro do Flamengo para assistir gratuitamente um espetáculo e não tem seu nome e sua marca exibidos nas fotografias do evento ou mencionadas nas reportagens sobre ele.
Pior, sei de entrevistas em que patrocinados citam o patrocinador e essa citação é omitida na publicação, para decepção de todos. Isso, inclusive, cria muitas vezes um conflito entre o patrocinado e o patrocinador, que supõe que não foi mencionado na entrevista.
Essa atitude vai contra o interesse de todos: dos patrocinados, dos patrocinadores e dos próprios meios de comunicação, que têm menos o que noticiar pela retração das empresas em patrocinar.
Há exceções, é claro. Honrosas e louváveis. Jô Soares e Nelson Piquet são as mais marcantes e citam constantemente os patrocinadores em seus programas ou artigos. Dizem aliás que Jô sempre exigiu explicitamente esse direito em seus contratos. Piquet por outro lado explica que tem a consciência de que, sem patrocinadores, seu esporte não é possível. E ele fala com a autoridade de quem foi campeão em um esporte onde os pilotos são verdadeiros outdoors ambulantes.
Assim, e em nome de patrocinadores e patrocinados, faço um apelo à mídia: divulguem, não precisa ser de uma forma que conflite com seus interesses comerciais, mas por favor divulguem os esforços que são feitos pelas empresas para manter acesa a chama da cultura e do esporte, num país carente e pobre como o Brasil, onde o governo tem tantas demandas dramáticas para aplicar seus escassos recursos.
O Brasil do futuro, penhorado, agradecerá.
Artigos publicados na imprensa do Rio de Janeiro e São Paulo, no Valor Econômico, O Globo, Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo e Jormal do Commercio, e nas revistas Exame e Bravo, dentre outras.
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