Luiz Antônio Viana

Textos

Marketing goela abaixo

Imagine-se o caro leitor numa reunião importante de um Conselho de Administração. Reunião tensa, decisões relevantes sendo tomadas. De repente toca o celular.

Você é daqueles que normalmente não deixam o celular ligado em reuniões, almoços e muito menos no cinema ou teatro, como alguns muito mal-educados andam fazendo. Mas nesse dia você está preocupado em receber um telefonema de grande relevância — e de uma pessoa muito especial — e , por isso, deixou o aparelhinho, misto de escravo e senhor, ligado.

Como você acha falta de educação ficar perturbando as outras pessoas com tuas conversas telefônicas, você se levanta discretamente para atender.

Do outro lado, uma voz entre estridente e fanhosa pergunta se você é o assinante daquele telefone. Você confirma, já pensando que o desgraçado do celular foi clonado pela quinta vez e vai começar todo aquele processo de trocar número, etc.

A voz então se identifica como sendo do telemarketing da sua operadora e diz que quer lhe oferecer novos serviços e pacotes. Com a voz mais controlada possível — afinal a criatura do outro lado não tem culpa — você diz que NÃO está interessado e volta para sua reunião, irritado e tendo perdido discussões relevantes.

Cenas como essa acontecem toda hora. E como a Lei de Murphy é implacável, certamente vão acontecer quando você está dirigindo, tomando banho, e todos os etecéteras. E não é só no seu celular. É também e muito mais no telefone fixo.

Chamar isso de marketing é uma bruta bobagem. É intrusão, agressão, anti-marketing.

Que algumas companhias usem esse artifício para vender seus produtos eu posso até entender. Que a sua operadora faça isso com você eu simplesmente não aceito. Ela tem o teu endereço e pode mandar o que quiser junto com a fatura, não precisa ficar te incomodando num aparelho que você comprou para VOCÊ usar e não ser usado por ele.

Outro comportamento "marqueteiro" que é profundamente irritante é o que alguns cartões de crédito vem adotando. Há poucos dias recebo em casa um envelope enviado por um dos grandes bancos da praça contendo um cartão de crédito que não solicitei. E restou para mim o encargo de ligar para o Serviço de (des) Atendimento ao cliente (o que aliás eu não era) para cancelar um cartão que eu não pedi. Precaução necessária, pois ouvi de amigos que se você simplesmente ignorar o cartão eles cobram a anuidade do indigitado...

Essa atitude é mais ou menos a daqueles pobres distribuidores que te jogam folhetos imobiliários carro adentro se o vidro estiver aberto. Ou dos "penduradores", aqueles seres que penduram no teu espelho saquinhos de balas, canetas e outras bugigangas ofertadas a um real. Com um bilhete dizendo às vezes "...não se preocupe, eu não estou roubando", o que, em última instância, parece dizer "...eu podia estar roubando, portanto compre e tire um possível ladrão das ruas".

Falta imaginação e bom senso por aí. Que os dois estão em escassez a gente já sabe. Mas isso ficar acontecendo no bojo de grandes corporações multiplica e amplifica o problema. Nessas horas me lembro que, quando comecei minha vida profissional na Big Blue, a gente recebia logo que chegava na empresa uma plaquinha dizendo PENSE. Que aliás tenho até hoje na minha mesa de trabalho.

Acho que tem muita empresa por aí precisando distribuir plaquinhas como essa a seus funcionários e dirigentes...

Conteúdo

Artigos publicados na imprensa do Rio de Janeiro e São Paulo, no Valor Econômico, O Globo, Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo e Jormal do Commercio, e nas revistas Exame e Bravo, dentre outras.

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