Textos
A verdadeira seleção brasileira
A pátria de chuteiras parece estar tropeçando nas próprias pernas, afogada em um mar de mediocridades, cuja culpa, aliás, não é só do Felipão. Sendo assim, penso que deveríamos considerar uma outra seleção, muito mais poderosa e capaz de resgatar nossa auto-estima em qualquer campo do mundo. Devo reconhecer que provavelmente seria um time com algumas falhas estruturais, com muitos jogadores criativos e poucos de marcação. Além disso, é provável que o preparo físico da equipe não fosse lá essas coisas, uma vez que alguns jogadores são por demais veteranos e outros apreciadores da vida noturna, da boa bebida e dos bons charutos. Como diria o locutor, a Suderj informa:
- Santos Dumont, o goleiro de vôos inacreditáveis, o primeiro aliás a realmente voar, não como aqueles frangueiros americanos que mal ensaiaram um vôozinho a meia altura.
- Pitangui, atento marcador especializado em consertar erros estéticos cometidos pelos jogadores Natureza e Acidentes, o melhor do mundo na sua posição.
- Guga, jovem valor que protege com perfeição o fundo da quadra, digo, campo, e que mais e mais vem aprendendo a sair para o ataque.
- Rui Barbosa, veterano, de físico franzino mas impecável na defesa, principalmente em jogos no exterior. Sua atuação em Haia foi considerada tão extraordinária que chegou a ser eleito o melhor jogador do torneio. É o capitão do time, porque não se intimida com juízes.
- Mauá, apelidado o Barão pelo toque refinado e inteligente, sabe jogar duro na defesa das cores brasileiras. Sofreu muito com a violência dos adversários ao longo de sua carreira, principalmente por parte dos ingleses.
Do meio de campo para frente, optamos por um estilo de técnica refinada, bem ao gosto do grande técnico Juscelino Kubitscheck e seu auxiliar Telê Santana.
- Tom Jobim! O maestro do meio de campo, com jogadas ao mesmo tempo simples e requintadas e que agradam muito ao público. Há uma certa polêmica se não deveria ter sido convocado seu companheiro de tabelinhas Vinícius, que pelas qualidades técnicas, teria condições de integrar o time. Mas isso poderia gerar ciumeiras em outros jogadores especialistas da função e de grande qualidade, como Drummond e Bandeira. Tom, aliás, chegou a jogar parte de sua carreira nos EUA, mas estava sempre por aqui. Quando perguntado porque, soltou a sua famosa frase: "Aqui é bom, mas é uma merda. Lá no Brasil é uma merda, mas é bom..."
- Niemeyer, o grande construtor de jogadas de sonho, veterano de muitas batalhas, atuando com eficiência há décadas, com seu jogo limpo, simples e direto.
- Villa-Lobos, compondo o meio de campo mais harmônico que o Brasil poderia ter. Jogador um tanto quanto temperamental, mas essencial para que o time jogue por música.
- Senna, com sua incrível velocidade e técnica refinadas, um dos maiores artilheiros da história, aliando a tudo isso uma coragem, audácia e disciplina que não são fáceis de encontrar.
- Pelé: entra em qualquer seleção, inclusive nesta.
e...
- Você, brasileiro anônimo, que cria com teu suor o Brasil do dia-a-dia, que com poucas calorias dá um enorme esforço, e que ainda és, na maioria, amável e agradável. E que farás muitos, muitos gols, se te deixarem entrar no jogo e jogarem limpo contigo...
Artigo originalmente publicado em Valor Econômico, 12/11/2001
Conteúdo
Artigos publicados na imprensa do Rio de Janeiro e São Paulo, no
Valor Econômico, O Globo, Jornal do Brasil,
O Estado de São Paulo e Jormal do Commercio, e nas
revistas Exame e Bravo, dentre outras.