Luiz Antônio Viana

Textos e reflexões sobre sociedade, cultura e arte

Textos

Chacrinha e um hino para o povo

Quem não se comunica, se trumbica, dizia o saudoso Velho Guerreiro, muito antes do mundo globalizado da internet e da CNN. Desdobrando a mensagem, é sempre possível se comunicar melhor. Comunicação bem feita significa aumento de produtividade, menor risco de conflito interpessoal, ampliação das possibilidades de amor e, até quem sabe, mais saúde física.

Tudo, mas tudo mesmo, pode ser comunicado de forma mais eficiente. A título de provocação, penso que neste Brasil deitado eternamente em berço esplêndido (e às vezes caindo da cama), até mesmo um dos nossos mais importantes veículos de comunicação País-Povo poderia ser substancialmente melhorado. Estou falando nada mais nada menos que o nosso querido Hino Nacional.

O tema me foi despertado quando li um artigo muito interessante sobre o evidente esforço que nossos jogadores faziam para cantar o Hino durante a Copa. E não é para menos. Vamos lá, reconheçamos, a letra do nosso Hino é difícil para todos nós, por melhor que seja nossa memória e nosso nível cultural. Por várias razões: o Hino é longo, usa palavras em desuso, abusa da ordem inversa, emprega imagens poéticas rebuscadas demais e, last but not least, tem duas estrofes longas, o que faz com que as pessoas nunca saibam qual vem antes ou qual vem depois.

Por outro lado, a música do Hino é linda e vibrante. Nesse aspecto, nosso Hino talvez seja um dos mais belos do mundo, junto com a Marselhesa, como aliás observou um jornal inglês antes do jogo Brasil x Inglaterra, sugerindo que seus leitores prestassem atenção no Hino Brasileiro, belo e emocionante.

Devemos lembrar que a atualização do nosso Hino, melhor dizendo, da letra do nosso Hino, não seria medida inédita, a letra do hino alemão, por exemplo, não mais enuncia o Deutschland über alles de antes.

Isto posto, por que não fazer do nosso Hino um hino do e para o Povo? Sem mudá-lo muito, aproveitando-o ao máximo do jeito que é mas deixando-o mais próximo de quem o canta. Vocês já repararam que os hinos têm seus apelidos? A Marselhesa, o God save the Queen, o Star and Stripes. E o nosso? Talvez pelas razões antes expostas, para alguns o nosso Hino virou... O Viro do Ipiranga!

Seria também importante deixá-lo com uma estrofe, mais simples. Lá fora nunca se toca as duas, já notaram? E aqui dentro, quando se toca, é um exercício de resistência. Deveríamos ter uma estrofe, aproveitando ao máximo o que já existe. Não seria difícil. Neste país não faltam fantásticos letristas. Faz-se um concurso, um plebiscito, qualquer coisa.

Ora, ora, e pra não dizer que não falei de flores, e aviso, só como exercício de comunicação lingüística, aí vai uma bem intencionada e respeitosa brincadeira:


Ouviu-se no riacho do Ipiranga
De um povo heróico o grito triunfante
E o sol da liberdade em raios fortes
Brilhou no céu da Pátria nesse instante.

Se o valor da igualdade
Conseguimos conquistar com braço forte
É preciso ó liberdade
Preservar-te em nosso peito até a morte!

Ó Pátria amada
Idolatrada
Salve! Salve!

Brasil de amor eterno seja símbolo
Teu céu tão lindo, claro e estrelado
E que nossa bandeira represente
Paz no futuro e glória no passado

Mas contra a injustiça irás à guerra
És bravo, solidário, és um colosso
Respeita brasileiro a tua terra

Terra adorada!
Entre outras mil
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada

Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada
Brasil!


 
Artigo originalmente publicado em Valor Econômico, 30/09/2002

Conteúdo

Artigos publicados na imprensa do Rio de Janeiro e São Paulo, no Valor Econômico, O Globo, Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo e Jormal do Commercio, e nas revistas Exame e Bravo, dentre outras.

 

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