Desculpe, Guga. Sei que você não tem nada com isso, mas hoje, perdendo ou ganhando, você é a pessoa que mais encarna a esperança de um Brasil que ainda pode ser bom. Por isso, peço licença pra usar teu nome no meu título, até porque as letras e o som combinam com o contraste que quero estabelecer.
Longe de mim querer entrar na polêmica do Guggenheim no Brasil, matéria de gente bem mais esperta do que eu. Acho apenas que um país com os problemas do Brasil, onde a cultura vive à míngua, teria prioridades mais urgentes para alocar seus recursos, sejam eles públicos ou privados. Basta olhar o estado de penúria de nossos museus ou do nosso acervo cinematográfico, em boa parte perdido. Para não falarmos de alguns monumentos de importância arquitetônica ou histórica, que estão em estado lastimável, como o dos Pracinhas no Aterro.
Meu objetivo ao escrever este artigo é apenas chamar a atenção para o fato de que, com o dinheiro que se fala em gastar no tal museu Guggenheim (os números que escuto e leio estão na ordem das centenas de milhões de dólares), poderíamos realizar coisas muito interessantes e de muito maior alcance. E muito menos elitistas. Coisas simples, simpáticas e eficazes como o Guga. Como os Centros de Cultura Brasileira.
E o que vem a ser isso? Bem, o Brasil produz filmes maravilhosos que não são exibidos por falta de salas dispostas a isso, companhias de teatro de alta competência que não têm onde se apresentar, músicos que ficam mendigando local para sua arte, pintores e fotógrafos que não expõem, dançarinos que dançam mais no sentido figurado do que no real, etc., etc. Além de um artesanato incrível produzido em todo nosso território, que, se reunido num único local de qualquer grande metrópole, geraria uma receita expressiva e sustentada e possibilitaria a sobrevivência digna de milhares de pessoas. Aliás, para os que não atentaram para esse aspecto, cultura é um grande empregador de mão-de-obra e o entretenimento será sem dúvida a mais importante indústria do século XXI.
Então, os Centros de Cultura Brasileira de que falo seriam estabelecimentos que abrigariam todo esse acervo. Por exemplo, doze salas de cinema, cinco de teatro, três de música, uma para ópera, duas para dança, livraria, videoteca, lojas de artesanato (mesmo!), amplo estacionamento, restaurantes de comidas típicas brasileiras, museus específicos e outras avenças. Tudo do Brasil, não só para brasileiros mas também para gente de fora que certamente, em estando aqui, lá iria atraída pela importância de tal Centro e pela possibilidade de conhecer coisas brasileiras de forma concentrada e facilitada.
E mais, o Centro poderia ter um ingresso único, barato, para dar acesso ao povo, esse povo tão mencionado e tão mal atendido. E o Centro teria mantenedores para subvencionar o seu dia a dia em troca de publicidade institucional. E convênios com empresas, universidades, governos. Já conheço pelo menos uma empresa que estaria disposta a patrocinar sua construção. É preciso, no entanto, que a Prefeitura, Estado ou Governo Federal, quem for mais disposto e mais rápido, disponibilize um local adequado, entre tantos prédios do cais do porto, edifícios fechados, fortes desativados, terrenos ociosos. E que seja no Rio de Janeiro, Niterói, São Paulo ou qualquer outra cidade. Tenho certeza que uma vez feito o primeiro, se multiplicarão tais centros pelo Brasil. Não é difícil imaginar o impacto que poderíamos alcançar na revitalização do tecido cultural Brasileiro.
Quanto a museus voltados apenas para o deleite da nossa elite, peço que me perdoem, mas vamos deixar que a VARIG ou a TAM cuidem disso, já que não há mais as asas da PANAIR.
Artigos publicados na imprensa do Rio de Janeiro e São Paulo, no Valor Econômico, O Globo, Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo e Jormal do Commercio, e nas revistas Exame e Bravo, dentre outras.
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