Luiz Antônio Viana

Textos e reflexões sobre sociedade, cultura e arte

Textos

Mangueira, por quê Mangueira?

Flamengo, por que o Fluminense? Orquídeas, por que as rosas? Marias, por que as Marinas? Como é que se explica o amor? Melhor dizendo, como é que a gente explica uma espécie muito peculiar de amor, amor sem lógica, amor meio irracional que a gente sente, por exemplo, pelo verde e rosa ou pelas três cores do tricolor?

Amor, aliás, que não é amor, é mais, é paixão, absoluta, incondicional. Paixão difícil de encontrar entre as nossas usuais paixões humanas. Mulheres antes apaixonadas podem abandonar seus maridos se eles ficarem pobres ou doentes. Homens antes arrebatados deixam suas fiéis companheiras porque velhas, feias ou gordas.

Mas o mangueirense jamais deixará sua Mangueira, mesmo que ruins sejam os sambas ou os enredos. Assim como os tricolores deram um exemplo comovente de fidelidade quando o Flu foi para a Terceira Divisão.

Como explicar? Dizem uns que o amor está escrito num outro plano, que nossos amores nos são predestinados antes de nascermos, para o bem ou para o mal. Pode ser isso, se não a gente não amava gente que não merece ser amada, e não existiam paixões que devoram mais que alimentam. Cruz e Delícia, como o belo texto da Traviata. É o tal do carma a ser cumprido por todos os viventes.

Outros por seu lado dizem que o amor é uma coisa inteligente e racional, a gente ama aquilo que pode nos fazer bem e que o amor não é cego coisa nenhuma.

Bom, não é essa a questão a ser discutida. Ou apresentada neste artigo que se pretende curto. De novo a pergunta pra mim mesmo é: por que esse amor pela Mangueira?

No meu caso posso dizer que é uma mistura de muitas coisas. E de muitas gentes. De muitos sambas bonitos e muitas ações bonitas. De muitas lembranças bonitas também.

Porque Mangueira é a iniciativa pioneira do Centro Olímpico e do Centro Cultural, únicos no Brasil. E com eles Mangueira é o carinho pela pessoa humana, é música e é trabalho, é samba e esporte, é passado e é futuro. Porque Mangueira é Chico e Zuenir, é dona Zica e Jamelão, vozes rindo dos anos que passam. Mangueira é Tom, o tom maior da nossa música, o brasileiro mais brasileiro até no nome.

Mangueira de outra vez foi uma certa mulher, paixão de cinco dias que começou com beijos trocados num sábado de ensaio e terminou amarga no luxuoso restaurante do Copa. E o samba que embalou nossos amares, eu o recordo até hoje. Mangueira é poderosa até sem querer.

Recebemos recentemente, Mangueira e eu, no mesmo dia em Brasília, a Ordem do Mérito Cultural. Outras escolas receberam também. Mas a grande Mangueira roubou a cena, os aplausos e o carinho dos que lá estavam. E a cerimônia além de tudo revelou mais um ilustre mangueirense, o Presidente da República.

E tem mais. O melhor aniversário da minha vida, no ano 2000, foi coroado pela entrada da bateria da verde e rosa comandando o parabéns pra você mais gostoso que jamais escutei, surpresa gostosa proporcionada pelos queridos Elmo e Célia. E este ano comemorei meu aniversário na própria festa de aniversário da Mangueira, com orquestra Tabajara e tudo. E aí meus amigos, não tem jeito. Ficam configurados o carma e o caso de amor.

Porque, meus amigos, além de tudo, Mangueira e eu fazemos aniversário juntos...

 
Artigo originalmente publicado em Revista do Carnaval Mangueira, 00/00/2002

Conteúdo

Artigos publicados na imprensa do Rio de Janeiro e São Paulo, no Valor Econômico, O Globo, Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo e Jormal do Commercio, e nas revistas Exame e Bravo, dentre outras.

 

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