Textos
Perguntas que não querem calar II
Meus amigos, descobri que tenho leitores-amigos e amigos-leitores.
Quando publicamos neste valoroso Valor o Perguntas que não querem calar I pedi aos que o leram que acrescentassem suas perguntas às minhas. E as sugestões vieram, de muitos lados. De conhecidos e desconhecidos. Aliás, muito facilitadas por essa grande instituição dos tempos modernos que é o e-mail, emanuel para os íntimos.
Assim, uma parte deste Perguntas II se deve à colaboração de gente como o Colucci, o xará Genghini e a cara Célia. Sem mais, aqui vão as novas-velhas perguntas, esperando que mais colaborações virão para permitir-me uma série expressiva, tipo Star Wars, pelo menos em tamanho...
Então, por que...
- a maioria dos empreendimentos imobiliários nas grandes cidades brasileiras tem que ter nomes franceses (como vinhos, Chateau isso, Chateau aquilo), quando a maioria dos moradores em potencial não tem a menor idéia do que esses nomes significam?
- algumas escolas de administração não se propõem a praticar na sua própria gestão os princípios que ensinam (ou pelo menos deveriam ensinar)?
- as pessoas fazem propaganda de produtos que toda a gente sabe que eles não usam, até porque não precisam? Por exemplo, pelo seu histórico, um certo ídolo nacional claramente nunca precisou do milagroso remédio que hoje anuncia.
- quando a gente está com pressa os sinais fecham todos e se a gente quer fazer hora para não chegar cedo demais eles teimam em se abrir, solícitos?
- o Brasil como sociedade não copia suas escolas de samba no que elas têm de bom, prodígios de organização e disciplina, de fazer inveja às legiões romanas? A propósito, salve Mangueira campeã, a mais pura das Escolas.
- o ponto de exclamação sempre desaparece do teclado quando eu o procuro?
- a Ponte Aérea tem que jogar fora suas caixinhas de lanche intactas pelos simples fato delas terem sido embarcadas e não consumidas? Um acordo com uma ONG, creche ou asilo qualquer resolveria essa amostra de desperdício crônico.
- a mesma Ponte Aérea que cobra os tubos pela passagem economiza na quantidade de jornais embarcados, deixando, se o avião estiver cheio, muitos de seus passageiros à míngua de notícias e de leitura?
- as concessionárias de veículos nos entregam carros de milhares de reais com centavos de gasolina no tanque?
- chamamos a cidade mais linda e feminina do mundo de o Rio?
- as polícias insistem nesse mecanismo atrapalhador de trânsito que são as blitzen? Será que algum bandido de verdade fica esperando na fila pra ser revistado ou interpelado?
- os bancos insistem em nos emprestar guarda-chuvas em dia de sol e correm para tomá-los de volta assim que começa a chover?
- no nosso mundo tecnológico as secretárias eletrônicas têm que aceitar as ligações a cobrar de gente que custa muito a perceber que está falando com uma máquina? Outro dia um cidadão deixou por oito vezes desesperados alôs para a minha máquina que insistia, implacável, em não se comunicar com ele...
- last, but not least, pessoas razoavelmente talentosas se submetem a humilhações desnecessárias para continuar sendo bumbum de elefante? Outro domingo o vermelho que imperou foi o de vergonha, verde-amarela também.
E por aqui ficamos, caríssimos. Aguardo novas colaborações, lembrando que, como podem ver por este artigo, perguntar é mais fácil que responder...
Artigo originalmente publicado em Valor Econômico, 27/05/2002
Conteúdo
Artigos publicados na imprensa do Rio de Janeiro e São Paulo, no
Valor Econômico, O Globo, Jornal do Brasil,
O Estado de São Paulo e Jormal do Commercio, e nas
revistas Exame e Bravo, dentre outras.