Luiz Antônio Viana

Textos e reflexões sobre sociedade, cultura e arte

Textos

Perguntas que não querem calar II

Meus amigos, descobri que tenho leitores-amigos e amigos-leitores.

Quando publicamos neste valoroso Valor o Perguntas que não querem calar I pedi aos que o leram que acrescentassem suas perguntas às minhas. E as sugestões vieram, de muitos lados. De conhecidos e desconhecidos. Aliás, muito facilitadas por essa grande instituição dos tempos modernos que é o e-mail, emanuel para os íntimos.

Assim, uma parte deste Perguntas II se deve à colaboração de gente como o Colucci, o xará Genghini e a cara Célia. Sem mais, aqui vão as novas-velhas perguntas, esperando que mais colaborações virão para permitir-me uma série expressiva, tipo Star Wars, pelo menos em tamanho...

Então, por que...


  1. a maioria dos empreendimentos imobiliários nas grandes cidades brasileiras tem que ter nomes franceses (como vinhos, Chateau isso, Chateau aquilo), quando a maioria dos moradores em potencial não tem a menor idéia do que esses nomes significam?

  2. algumas escolas de administração não se propõem a praticar na sua própria gestão os princípios que ensinam (ou pelo menos deveriam ensinar)?

  3. as pessoas fazem propaganda de produtos que toda a gente sabe que eles não usam, até porque não precisam? Por exemplo, pelo seu histórico, um certo ídolo nacional claramente nunca precisou do milagroso remédio que hoje anuncia.

  4. quando a gente está com pressa os sinais fecham todos e se a gente quer fazer hora para não chegar cedo demais eles teimam em se abrir, solícitos?

  5. o Brasil como sociedade não copia suas escolas de samba no que elas têm de bom, prodígios de organização e disciplina, de fazer inveja às legiões romanas? A propósito, salve Mangueira campeã, a mais pura das Escolas.

  6. o ponto de exclamação sempre desaparece do teclado quando eu o procuro?

  7. a Ponte Aérea tem que jogar fora suas caixinhas de lanche intactas pelos simples fato delas terem sido embarcadas e não consumidas? Um acordo com uma ONG, creche ou asilo qualquer resolveria essa amostra de desperdício crônico.

  8. a mesma Ponte Aérea que cobra os tubos pela passagem economiza na quantidade de jornais embarcados, deixando, se o avião estiver cheio, muitos de seus passageiros à míngua de notícias e de leitura?

  9. as concessionárias de veículos nos entregam carros de milhares de reais com centavos de gasolina no tanque?

  10. chamamos a cidade mais linda e feminina do mundo de o Rio?

  11. as polícias insistem nesse mecanismo atrapalhador de trânsito que são as blitzen? Será que algum bandido de verdade fica esperando na fila pra ser revistado ou interpelado?

  12. os bancos insistem em nos emprestar guarda-chuvas em dia de sol e correm para tomá-los de volta assim que começa a chover?

  13. no nosso mundo tecnológico as secretárias eletrônicas têm que aceitar as ligações a cobrar de gente que custa muito a perceber que está falando com uma máquina? Outro dia um cidadão deixou por oito vezes desesperados alôs para a minha máquina que insistia, implacável, em não se comunicar com ele...

  14. last, but not least, pessoas razoavelmente talentosas se submetem a humilhações desnecessárias para continuar sendo bumbum de elefante? Outro domingo o vermelho que imperou foi o de vergonha, verde-amarela também.


E por aqui ficamos, caríssimos. Aguardo novas colaborações, lembrando que, como podem ver por este artigo, perguntar é mais fácil que responder...

 
Artigo originalmente publicado em Valor Econômico, 27/05/2002

Conteúdo

Artigos publicados na imprensa do Rio de Janeiro e São Paulo, no Valor Econômico, O Globo, Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo e Jormal do Commercio, e nas revistas Exame e Bravo, dentre outras.

 

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