Luiz Antônio Viana

Textos e reflexões sobre sociedade, cultura e arte

Textos

Rio, capital do cinema

A indicação de Central do Brasil e de Fernanda Montenegro para o Oscar poderia ser emblematicamente o marco inicial de um processo de revitalização do cinema nacional, focado na criação de uma real indústria brasileira de cinema, auto-sustentável e rentável e com produtores estruturados de forma empresarial.

Os mecanismos de incentivo à produção nacional via renúncia fiscal nesse contexto deveriam ser vistos como um embasamento sólido para a produção cinematográfica brasileira e não como sua fonte única de recursos e sua única motivação.

Além disso, e apesar do estímulo que tais mecanismos deram para a alavancagem do nosso cinema, eles são insuficientes para proporcionar bases sólidas ao seu crescimento sustentado. A produção é a primeira etapa de um processo que se conclui com a exibição dos filmes e nesse último aspecto, como bem menciona Arnaldo Jabor em recente artigo, a indústria cinematográfica brasileira está desamparada.

Mas, sem dúvida, há formas criativas de abordar o problema da exibição adequada de filmes brasileiros. Entre elas a de que o revigoramento do cinema pode ser associado à revitalização de espaços sub-utilizados em grandes centros urbanos.

Um exemplo claro é especificamente a Zona Portuária do Rio de Janeiro, que apresenta as condições ideais para adoção de uma política que combine harmoniosamente os esforços, da iniciativa privada e do setor público, na criação de espaço dedicado à exibição da produção audiovisual brasileira.

Os armazéns na Zona Portuária, hoje quase inúteis, representam um patrimônio inestimável. Neles podem ser instaladas salas multiplex, lojas e estacionamentos, com garantia de segurança para os espectadores. Todo o complexo seria construído e administrado pela iniciativa privada, com franqueamento dos imóveis e isenção dos impostos pela administração municipal e estadual.

Assim, o público que visitasse o complexo na Zona Portuária do Rio poderia ver os últimos lançamentos da indústria ou um filme de Glauber, assistir o melhor da produção nacional de curtas-metragem ou antigas chanchadas da Atlântida. Tudo isso em ambiente confortável e seguro. Aliás, o exemplo de aproveitamento de áreas portuárias vem de longe, San Francisco, New York, e, nem de tão longe, Buenos Aires.

Além da área disponível, o Rio de Janeiro também tem outras características importantes. A única distribuidora de filmes nacionais está instalada na cidade, a Rio Filmes. A administração municipal tem política de apoio para a criação de novas salas de exibição. E, por fim, os moradores do Rio, Belém e Salvador eram os que mais gastavam com cinema, segundo Pesquisa de Orçamento Familiar do IBGE, de 1987. Nessas, como em outras cidades, certamente haverá locais apropriados para o desenvolvimento de centros como aqui mencionados. Em São Paulo o programa de revitalização do centro encontraria um casamento perfeito com a revitalização do cinema.

Não se pode também perder de vista o impacto econômico dessa iniciativa. A criação de salas de exibição dedicadas ao cinema brasileiro é importante para a indústria, representando o combustível fundamental à dinamização das empresas produtoras. A pesquisa Economia do Cinema Brasileiro do Ministério da Cultura, feita em 1998, afirma que para se expandir e consolidar o mercado de filmes brasileiro é necessário desenvolver um sistema para estimular a exibição nas salas de cinema. A razão para isto é que o sucesso de um filme na televisão ou nas locadoras depende de seu desempenho nas salas de exibição, onde o público trava seu primeiro contato com o produto.

Ao se criar canais para a exibição também estaremos gerando empregos. Em entrevista para a revista Bravo (fevereiro de 1999), o Ministro da Cultura, Francisco Weffort, revelou que para R$ 1 milhão investidos em cultura são gerados 160 empregos, mais do que o dobro em outras indústrias.

O Rio de Janeiro deve ser a capital brasileira do cinema. Até porque a Cidade Maravilhosa é além de tudo uma obra de arte, em si mesma cinematográfica na sua beleza.

 
Artigo originalmente publicado em Jornal do Brasil, 23/09/1999

Conteúdo

Artigos publicados na imprensa do Rio de Janeiro e São Paulo, no Valor Econômico, O Globo, Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo e Jormal do Commercio, e nas revistas Exame e Bravo, dentre outras.

 

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