Luiz Antônio Viana

Textos e reflexões sobre sociedade, cultura e arte

Textos

Diferente, mas nem sempre melhor

Será o que é novo e diferente necessariamente melhor do que o conhecido e tradicional?

A sociedade moderna parece dizer peremptoriamente que sim, em todos os aspectos da vida. As empresas buscam desesperadamente modelos novos, novos designs. E isso parece ser um dos meios "inteligentes" mais cômodos para aumentar vendas. Vender o novo para tornar todos aqueles que não o possuem seres inferiorizados perante seus pares e a sociedade.

Não estou contestando as inovações tecnológicas reais e substantivas. Estou falando de mudanças cosméticas que muitas vezes representam até um retrocesso estético. Um farol redondo aqui, uma cor estranha ali, um ou outro dispositivo completamente inútil acolá.

Na verdade, devemos reconhecer que não é só no mundo do mercado de bens e serviços que isso acontece. Nas artes, a busca pela inovação a qualquer custo leva ao grotesco, montes de lixo virando elogiadas instalações. No mundo dos negócios, as siglas se multiplicam para gerar a impressão de novas e milagrosas técnicas de administração, vestindo práticas que podem ser resumidas como bom senso.

No caso do Brasil, essa questão parece mais aguda. A busca pelo "muderno", a necessidade de trocar o que está bom, o mudancismo que vem dos tempos da chegada da Corte de dom João VI, tudo isso parece crônico.

E o que é pior, nas relações amorosas, a busca do novo tem levado em muitos casos à destruição de afetos reais, há pessoas jogando fora algo bom, mas conhecido, em troca de um novo pior, onde, como diria o poetinha Vinícius, o menos vale mais. Com a agravante de que o novo um dia deixa de ser novo e vira o desprezado conhecido...

No caso mais específico de produtos, penso que está faltando, por mais paradoxal que pareça, ousadia para investir no tradicional, no clássico, no belo verdadeiro.

Querem um exemplo? As inúmeras réplicas de carros antigos, a maioria sem preocupação de qualidade. Que tal fazer esses carros do jeito que eles eram e incorporar toda a tecnologia possível dentro das limitações do projeto original? Eu, por exemplo, acho que os conversíveis antigos tipo MG (modelos 1949 a 1953) têm muito mais charme do que os bólidos atuais. Tenho a certeza de que, para aqueles que acreditam (e lá vem Vinícius de novo) que a beleza é fundamental, não custaria aceitar as inevitáveis limitações técnicas e abrir mão de velocidade e desempenho para ter um modelo muito mais bonito.

Exemplos de sobreviventes clássicos? Os táxis de Londres são o caso mais típico. Em matéria de conforto, flexibilidade de manobra e outros quesitos, são inigualáveis. Ou uma célebre calculadora que está no mercado há mais de vinte anos. Eu nem sei se o modelo ainda é fabricado, espero que seja. Pois quem tem a velha 12 não quer saber de outra, pelo menos ninguém que eu conheça.

Acho então que há um campo muito grande aberto para o investimento mercadológico no que é bom embora antigo. O cinema, aliás, percebe isso com a refilmagem de roteiros clássicos e espetaculares. Embora, na maioria das vezes, com muita incompetência de execução, mas isso é outra história...

 
Artigo originalmente publicado em Valor Econômico, 10/01/2005

Conteúdo

Artigos publicados na imprensa do Rio de Janeiro e São Paulo, no Valor Econômico, O Globo, Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo e Jormal do Commercio, e nas revistas Exame e Bravo, dentre outras.

 

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