Luiz Antônio Viana

Textos e reflexões sobre sociedade, cultura e arte

Textos

Pufes, cavalinhos, ventiladores e alcachofras

Não pensem que usei como título um trecho de Alice no País das Maravilhas, ou que minha imaginação libertou-se de qualquer controle razoável.

Vou explicar. Existe em São Paulo um "mercado" que faz tempo anda me intrigando. Pela sua estranha linha de produtos e pela sua excepcional localização, de fazer inveja a qualquer das grandes cadeias de varejo. Pois esse mercado funciona ao ar livre numa das esquinas mais valorizadas da cidade, rua Groelândia com rua Inglaterra, no nobilíssimo Jardim Europa.

E o mais curioso é que a linha de produtos oferecida é exatamente aquela relacionada no título deste artigo, com pequenas variações. Pufes (horrendos), cavalinhos de brinquedo (tétricos), ventiladores (será que funcionam?) e alcachofras (que até não parecem ruins).

O que mais espanta é que tudo isso é vendido nas barbas de todo o mundo, passantes, autoridades, e, principalmente, dos donos das casas em volta, os quais, aparentemente, não se importam. Será que eles recebem royalties, pelo menos...?

Fico imaginando se a moda pega. Teremos então numa outra esquina da região CDs, caldo de cana e toalhas de renda; em outra, cadeiras de balanço, amortecedores de carro (trocados na hora) e sacos de batata. E daí por diante.

Quem sabe até as pessoas vão dizer assim: "Te vi outro dia com a fulana, na esquina dos tomates...".

EM PLENO VERÃO

Outro dia ouvi na praia do Leblon, no Rio de Janeiro, um desses neo-hippies que vendem colares, pulseiras e outras coisinhas dizer para o seu colega de calçada e de negócio:

"Cara, eu não estava prestando atenção e estava me dando mal! Você sabia que 10 dólares não são mais 30 reais? Agora dá 26 e pouco! Eu estou a fim de aumentar para 15, mas só se tu for junto!".

Pois é, num belo domingo de sol, lições de uma economia "dinâmica" — comportamento perante o câmbio, reajuste na matemática mais arredondada possível e, de quebra, um cartelzinho de leve...

DOCE DESEJO

Foi o pedinte mais sofisticado e mercadologicamente mais equivocado que eu já vi na vida. Acompanhou-me ao longo de três quadras, buzinando em meus ouvidos com sua exposição de motivos detalhada. No Rio de Janeiro de novo, aliás.

Em geral os pedintes muitos na minha ainda Cidade Maravilhosa pedem, como em qualquer outro lugar, dinheiro para comprar um pão, remédios, etc. Esse não.

"Doutor, é o seguinte, minha mulher está grávida e cheia de desejos. Agora ela está louca por uma caixa de bombons. E eu estou quase conseguindo. Me arruma dois reais pra completar a caixa?"

Pano rápido...

EXCLAMAÇÕES E INTERROGAÇÕES

Antes de mais nada, devo avisar que não sei se alguém já escreveu sobre isso.

Meditando profundamente sobre controversos e insolúveis temas tais como a natureza da alma feminina e outras avenças, baixou-me uma súbita questão de importância em nada equivalente aos temas antes comentados.

E a questão é: creio que descobri porque o nosso querido sinal ! é o ponto de exclamação e o nosso angustiante sinal ? é o ponto de interrogação.

Ambos, descubro, são símbolos de marketing. O primeiro, que chamemos de Tung, o ponto de exclamação, esse é uma linha reta, direta, afirmativa, terminando num ponto final.

O segundo, que chamaremos de Ung, o ponto de interrogação, é uma curva cheia de duvidas e sinuosidades, expressando muito bem que não queria terminar onde termina, também num ponto.

E também não é à toa que o Ung é sinuoso e curvilíneo, feminino, enquanto o Tung é direto e vertical...

 
Artigo originalmente publicado em Valor Econômico, 18/03/2005

Conteúdo

Artigos publicados na imprensa do Rio de Janeiro e São Paulo, no Valor Econômico, O Globo, Jornal do Brasil, O Estado de São Paulo e Jormal do Commercio, e nas revistas Exame e Bravo, dentre outras.

 

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